quinta-feira, 1 de novembro de 2012

TURISMO COMUNITÁRIO NA RESEX CHICO MENDES


TURISMO COMUNITÁRIO NA RESEX CHICO MENDES

Por
Adalgisa Bandeira de Araujo
Pegagogia (Ufac) e Mestre em Turismo (UnB)

A reserva Extrativista Chico Mendes localizada no Estado do Acre é uma área utilizada por populações locais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Privilegia a proteção da vida e cultura das populações, além de assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da Unidade. Sua área de 970.570 hectares aproximadamente.  É regulamentada pelo Decreto N.º 99.144/90 e agrega mais de 1.100 unidades de produção espalhadas pela floresta dos municípios de Rio Branco, Xapuri, Brasileia, Assis Brasil, Sena Madureira e Capixaba. Tem o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) como órgão gestor.
A Unidade exibe um dos cenários mais exuberantes em meio à floresta amazônica, com árvores centenárias, gigantescas onde é possível ouvir o canto dos pássaros, ver flores raras e de cores variadas e também, as pegadas dos animais silvestres. Com os nativos é possível aprender o uso das plantas medicinais, as técnicas para escapar dos ataques dos animais e conhecer seu modo de vida peculiar. Ao cair da noite, após o jantar e antes de dormir, é comum ouvir os “causos” de seringueiros no enfrentamento de onças, queixadas, macacos da noite e de seres sobrenaturais e imaginários da floresta, como o caboclinho da mata, mapinguari e mãe da mata.
São belezas deixadas para trás, presas no isolamento, esquecidas, e que hoje se tornam riquezas inigualáveis. O desafio é tornar essas belezas conhecidas da população urbana sem, contudo interferir de forma acintosa, na natureza e tranquilidade do lugar. Tornar conhecido é também uma maneira de proteger. Existem várias formas para buscar a proteção de um lugar e uma delas é por meio do turismo, quando atrelado às práticas sustentáveis. As modalidades do turismo que podem ser desenvolvidas em uma Unidade de Proteção como uma reserva extrativista, por exemplo, é o ecoturismo, o turismo de base comunitária, turismo vivencial e algumas especificidades do turismo de aventura como as caminhadas de curto e de longo curso.
Sendo, portanto, o ecoturismo compreendido como aquele que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural e que devem sempre atuar no sentido do fortalecimento das culturas e da identidade local como segmento que promove a preservação por meio do conhecimento do lugar visitado, o mais apropriado para a resex Chico Mendes, com base no que registra o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e parceiros como Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA), Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal (PROECOTUR) e Ministério do Turismo (MTur):


Ecoturismo é o segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações. (BRASIL – MICT/MMA, 1994 apud ARAUJO, 2009, p. 127).


Dessa forma, o turismo praticado na Resex Chico Mendes busca a interação dos turistas com a natureza e a inserção da comunidade local com práticas sustentáveis de desenvolvimento assegurando que a atividade econômica praticada além de gerar renda seja capaz de promover desenvolvimento econômico ambientalmente sustentável, por não poluir o meio ambiente como a atividade industrial, e nem degradar a natureza como faz a agricultura.
Outra modalidade do turismo viável para uma Unidade de Conservação é o turismo de base comunitária, segmento alternativo, típico de locais com histórico de lutas pela apropriação da terra orquestrada pela própria comunidade. Diferencia-se do turismo de expropriação praticado especificamente nas comunidades litorâneas, onde o abuso de poder econômico no processo de disputa por terra para o lazer, desencadeia especulação imobiliária, interferindo consequentemente, na economia e na degradação paisagística e ambiental local.
Assim, o turismo praticado nas comunidades tem sido uma atividade arriscada, às vezes desagregadora das atividades tradicionais e nem sempre seus resultados são satisfatórios, diferentemente do turismo quando praticado pela própria comunidade em consonância com a realidade local, como declara Coriolano (2009, p.282):

O turismo comunitário é aquele em que as comunidades de forma associativa organizam arranjos produtivosos locais e ficam no controle efetivo das terras e das atividades econômicas associadas à exploração do turismo. Nele o turista é levado a interagir com o lugar e com as famílias residentes, seja de pescadores, ribeirinhos, pantaneiros ou de índios.

Contrariando as demais atividades relatadas ousa-se dizer que a localidade é também propícia para as atividades de aventura em práticas sustentáveis quando vistas dentro de uma boa margem de segurança, mantendo moderados (mas não ausentes) riscos. Afinal a aventura é produto da civilização, do sedentarismo, da falta de riscos no cotidiano das sociedades mais avançadas. Ela é ainda, contraponto de uma vida que se organizou, se tornou previsível e se distanciou dos perigos e dos confrontos, onde o conforto produz a ânsia pelo desconforto e as certezas e monotonia a vontade de arriscar e dar um salto no desconhecido. Enfim, a busca pela liberação, pelo fazer diferente e costumeiro.
Efetivamente, a atividade turística que abrange o turismo de aventura praticado na Reserva Extrativista Chico Mendes é o de caminhada de longo curso por meio de um produto turístico denominado Trilha Chico Mendes. Identificada pelo órgão oficial de turismo do Acre, no ano de 2010, compreende uma trilha de até 93km de extensão em seu trajeto terrestre mais um trecho fluvial percorrendo o rio Xapuri com duração de 2h30min a 3h de viagem em barcos típicos. Sinalizada com pontos de paradas para almoço e pernoites em pousadas rústicas, recém construídas, adequadas para barracas e redes. Podendo ser percorrida total ou parcial, gerando de 2 a 5 pernoites, proporciona o diferente e prazeroso de uma aventura na selva amazônica.
O objetivo da implantação de um produto turístico de caminhada de longo curso é, na verdade, dar visibilidade às Unidades de Conservação e assim contribuir para com o desenvolvimento, preservação e manutenção da cultura local tornando-a conhecida. Sendo as atividades do turismo de aventura reconhecidas como registra o Ministério do Turismo (MTur):

[...] experiências físicas e sensoriais recreativas que envolvem desafios, riscos avaliados, controláveis e assumidos que podem proporcionar sensações diversas como liberdade, prazer, superação, experiência a depender da expectativa de cada pessoa e do nível de dificuldade de cada atividade. (BRASIL, MTur, 2008).

No entanto, para que o caminhar se torne prazeroso faz-se necessário o mínimo de conforto para os caminhantes, como refeição caseira balanceada, banho e um local confortável para dormir, proporcionando, dessa forma, o bem estar dos turistas. Portanto, para uma caminhada desafiadora, emocionante e satisfatória a Trilha Chico Mendes em implantação na Resex Chico Mendes no Estado do Acre terá, a princípio, ao longo de seu percurso a construção de (04) quatro equipamentos de hospedagem e na entrada (01) um centro de visitantes.
As hospedagens devem oferecer apenas os serviços de acomodação e refeição de forma bem “caseira” sem muita qualificação nos serviços. Sendo necessário, portanto, a devida qualificação para a prestação dos serviços de guiamento dos turistas, devido a característica peculiar da reserva extrativista, na floresta amazônica e a legitimidade e regularidade da profissão dos guias e condutores de turistas.
Portanto, as modalidades do turismo praticado na Resex Chico Mendes tem no ecoturismo, no turismo de base comunitária e no turismo de aventura a busca pelo reconhecimento, preservação e manutenção da natureza e cultura local, consolidando produtos turísticos com infraestrutura adequada aos padrões culturais locais e ao gosto do turista para que visitados e visitantes sintam-se satisfeitos com o produto turístico ofertado e consumido.


Referências bibliográficas

ARAUJO, Adalgisa Bandeira de. O Acre e a rota turística internacional Amazônia-Andes-Pacífico: sustentabilidade e dinamicidade cultural. 2009. 170f. Dissertação (Mestrado em Turismo) Universidade de Brasília, Brasília.

CORIOLANO, Luzia Neide M. T. O turismo comunitário no nordeste brasileiro. In: BARTHOLO, R; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I: TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Editora Letra e Imagem, 2009.

MINISTÉRIO DO TURISMO. Ecoturismo. Caminhos do futuro. Brasília: MTur/AVT/IAP/USP, 2007.



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