TURISMO COMUNITÁRIO NA
RESEX CHICO MENDES
Por
Adalgisa Bandeira de Araujo
Pegagogia (Ufac) e Mestre em Turismo (UnB)
A reserva Extrativista Chico Mendes localizada no Estado do Acre é uma
área utilizada por populações locais, cuja subsistência baseia-se no
extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação
de animais de pequeno porte. Privilegia a proteção da vida e cultura das
populações, além de assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da
Unidade. Sua área de 970.570 hectares aproximadamente. É regulamentada pelo Decreto N.º 99.144/90 e
agrega mais de 1.100 unidades de produção espalhadas pela floresta dos municípios
de Rio Branco, Xapuri, Brasileia, Assis Brasil, Sena Madureira e Capixaba. Tem
o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) como órgão
gestor.
A Unidade exibe um dos cenários mais exuberantes em meio à floresta amazônica,
com árvores centenárias, gigantescas onde é possível ouvir o canto dos
pássaros, ver flores raras e de cores variadas e também, as pegadas dos animais
silvestres. Com os nativos é possível aprender o uso das plantas medicinais, as
técnicas para escapar dos ataques dos animais e conhecer seu modo de vida
peculiar. Ao cair da noite, após o jantar e antes de dormir, é comum ouvir os
“causos” de seringueiros no enfrentamento de onças, queixadas, macacos da noite
e de seres sobrenaturais e imaginários da floresta, como o caboclinho da mata,
mapinguari e mãe da mata.
São belezas deixadas para trás, presas no isolamento, esquecidas, e que
hoje se tornam riquezas inigualáveis. O desafio é tornar essas belezas
conhecidas da população urbana sem, contudo interferir de forma acintosa, na
natureza e tranquilidade do lugar. Tornar conhecido é também uma maneira de
proteger. Existem várias formas para buscar a proteção de um lugar e uma delas
é por meio do turismo, quando atrelado às práticas sustentáveis. As modalidades
do turismo que podem ser desenvolvidas em uma Unidade de Proteção como uma
reserva extrativista, por exemplo, é o ecoturismo, o turismo de base
comunitária, turismo vivencial e algumas especificidades do turismo de aventura
como as caminhadas de curto e de longo curso.
Sendo, portanto, o ecoturismo compreendido como aquele que utiliza de
forma sustentável o patrimônio natural e cultural e que devem sempre atuar no
sentido do fortalecimento das culturas e da identidade local como segmento que
promove a preservação por meio do conhecimento do lugar visitado, o mais
apropriado para a resex Chico Mendes, com base no que registra o Ministério do Meio
Ambiente (MMA) e parceiros como Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA), Programa
de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal (PROECOTUR) e Ministério do Turismo
(MTur):
Ecoturismo é o segmento da
atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e
cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência
ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das
populações. (BRASIL – MICT/MMA, 1994 apud ARAUJO, 2009, p. 127).
Dessa forma, o turismo praticado na Resex Chico Mendes busca a interação dos
turistas com a natureza e a inserção da comunidade local com práticas
sustentáveis de desenvolvimento assegurando que a atividade econômica praticada
além de gerar renda seja capaz de promover desenvolvimento econômico
ambientalmente sustentável, por não poluir o meio ambiente como a atividade
industrial, e nem degradar a natureza como faz a agricultura.
Outra modalidade do turismo viável para uma Unidade de Conservação é o
turismo de base comunitária, segmento alternativo, típico de locais com
histórico de lutas pela apropriação da terra orquestrada pela própria comunidade.
Diferencia-se do turismo de expropriação praticado especificamente nas
comunidades litorâneas, onde o abuso de poder econômico no processo de disputa por
terra para o lazer, desencadeia especulação imobiliária, interferindo
consequentemente, na economia e na degradação paisagística e ambiental local.
Assim, o turismo praticado nas comunidades tem sido uma atividade
arriscada, às vezes desagregadora das atividades tradicionais e nem sempre seus
resultados são satisfatórios, diferentemente do turismo quando praticado pela
própria comunidade em consonância com a realidade local, como declara Coriolano
(2009, p.282):
O turismo comunitário é
aquele em que as comunidades de forma associativa organizam arranjos produtivosos
locais e ficam no controle efetivo das terras e das atividades econômicas associadas
à exploração do turismo. Nele o turista é levado a interagir com o lugar e com
as famílias residentes, seja de pescadores, ribeirinhos, pantaneiros ou de
índios.
Contrariando as demais atividades relatadas ousa-se dizer que a
localidade é também propícia para as atividades de aventura em práticas
sustentáveis quando vistas dentro de uma boa margem de segurança, mantendo
moderados (mas não ausentes) riscos. Afinal a aventura é produto da
civilização, do sedentarismo, da falta de riscos no cotidiano das sociedades
mais avançadas. Ela é ainda, contraponto de uma vida que se organizou, se
tornou previsível e se distanciou dos perigos e dos confrontos, onde o conforto
produz a ânsia pelo desconforto e as certezas e monotonia a vontade de arriscar
e dar um salto no desconhecido. Enfim, a busca pela liberação, pelo fazer
diferente e costumeiro.
Efetivamente, a atividade turística que abrange o turismo de aventura
praticado na Reserva Extrativista Chico Mendes é o de caminhada de longo curso
por meio de um produto turístico denominado Trilha Chico Mendes. Identificada
pelo órgão oficial de turismo do Acre, no ano de 2010, compreende uma trilha de
até 93km de extensão em seu trajeto terrestre mais um trecho fluvial percorrendo
o rio Xapuri com duração de 2h30min a 3h de viagem em barcos típicos.
Sinalizada com pontos de paradas para almoço e pernoites em pousadas rústicas,
recém construídas, adequadas para barracas e redes. Podendo ser percorrida
total ou parcial, gerando de 2 a 5 pernoites, proporciona o diferente e
prazeroso de uma aventura na selva amazônica.
O objetivo da implantação de um produto turístico de caminhada de longo
curso é, na verdade, dar visibilidade às Unidades de Conservação e assim contribuir
para com o desenvolvimento, preservação e manutenção da cultura local
tornando-a conhecida. Sendo as atividades do turismo de aventura reconhecidas
como registra o Ministério do Turismo (MTur):
[...] experiências físicas e sensoriais
recreativas que envolvem desafios, riscos avaliados, controláveis e assumidos
que podem proporcionar sensações diversas como liberdade, prazer, superação,
experiência a depender da expectativa de cada pessoa e do nível de dificuldade
de cada atividade. (BRASIL, MTur, 2008).
No entanto, para que o caminhar se torne prazeroso faz-se necessário o
mínimo de conforto para os caminhantes, como refeição caseira balanceada, banho
e um local confortável para dormir, proporcionando, dessa forma, o bem estar
dos turistas. Portanto, para uma caminhada desafiadora, emocionante e
satisfatória a Trilha Chico Mendes em implantação na Resex Chico Mendes no
Estado do Acre terá, a princípio, ao longo de seu percurso a construção de (04)
quatro equipamentos de hospedagem e na entrada (01) um centro de visitantes.
As hospedagens devem oferecer apenas os serviços de acomodação e refeição
de forma bem “caseira” sem muita qualificação nos serviços. Sendo necessário,
portanto, a devida qualificação para a prestação dos serviços de guiamento dos
turistas, devido a característica peculiar da reserva extrativista, na floresta
amazônica e a legitimidade e regularidade da profissão dos guias e condutores
de turistas.
Portanto, as modalidades do turismo praticado na Resex Chico Mendes tem
no ecoturismo, no turismo de base comunitária e no turismo de aventura a busca
pelo reconhecimento, preservação e manutenção da natureza e cultura local,
consolidando produtos turísticos com infraestrutura adequada aos padrões
culturais locais e ao gosto do turista para que visitados e visitantes sintam-se
satisfeitos com o produto turístico ofertado e consumido.
Referências
bibliográficas
ARAUJO, Adalgisa
Bandeira de. O Acre e a rota turística
internacional Amazônia-Andes-Pacífico: sustentabilidade e dinamicidade
cultural. 2009. 170f. Dissertação (Mestrado em Turismo) Universidade de
Brasília, Brasília.
CORIOLANO, Luzia
Neide M. T. O turismo comunitário no
nordeste brasileiro. In: BARTHOLO, R; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I: TURISMO
DE BASE COMUNITÁRIA: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de
Janeiro: Editora Letra e Imagem, 2009.
MINISTÉRIO DO
TURISMO. Ecoturismo. Caminhos do
futuro. Brasília: MTur/AVT/IAP/USP, 2007.
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